Autoridade monetária defende superavit primário mais robusto e elogia programas de investimento. E deixa claro que o controle da inflação depende do fim da gastança
VICTOR MARTINS
Sem qualquer colaboração do Ministério da Fazenda para o controle da inflação, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, defendeu, ontem, a importância de um esforço fiscal mais robusto por parte do governo. Durante audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, ele afirmou que quanto maior for a economia para pagar os juros da dívida pública — poupança chamada de superavit primário —, melhor será para o Banco Central cumprir o objetivo de controlar a inflação. A autoridade monetária ainda tentou desenhar um cenário otimista para o Brasil e exaltou os leilões de concessão de serviços públicos e exploração de recursos naturais. Para Tombini, as empresas que participarem do programa de investimentos estarão em vantagem frente a futuros concorrentes.
Os parlamentares não se mostraram convencidos com o discurso do presidente do BC, que evitou, durante a sua apresentação de abertura, falar de contas públicas. Apenas quando questionado abordou o tema. “Qualquer banco central, imagino, a não ser daqueles países que estão saindo da recessão, defende quanto mais fiscal, melhor. Em condições normais, o BC sempre teria esse viés”, disse. A estratégia do governo, de ampliar os gastos públicos para estimular a economia, segundo os críticos da política econômica, falhou por não conseguir resultados melhores e por concentrar as despesas na burocracia estatal em vez de ampliar os investimentos.
Com a desaceleração da economia, que no terceiro trimestre encolheu 0,5%, se intensificou a disparidade entre receitas e despesas. Os gastos do governo continuamente superam a arrecadação e, para fechar as contas, a equipe econômica precisa emitir dívida. Diante desse quadro, o superavit primário encolheu e, este ano, deve fechar em 1,7% do Produto Interno Bruto (PIB), valor insuficiente para manter a dívida bruta em queda. A situação fiscal chamou ainda a atenção das agências internacionais de risco, que podem rebaixar o Brasil no ranking que mede a confiabilidade do país para receber investimentos.
Tombini, a despeito dos questionamentos, se apegou a um cenário muito mais positivo. “A consolidação do crescimento para os próximos semestres em bases sustentáveis depende ainda do fortalecimento da confiança das famílias e dos empresários, que já mostra alguma recuperação”, argumentou. O presidente do BC ainda minimizou o resultado negativo da atividade econômica, divulgado na semana passada. “O crescimento brasileiro continua a se materializar de forma gradual, mesmo considerando a contração do Produto Interno Bruto (PIB) registrada, na margem, no terceiro trimestre”, defendeu.
A autoridade monetária ainda garantiu, a despeito das críticas em contrário, que o Brasil está preparado para o momento de transição, no mundo, com a mudança da política monetária nos Estados Unidos. Segundo ele, o melhor para o país e para os mercados globais seria o Federal Reserve (Fed), o BC dos EUA começar, de imediato, a retirada dos estímulos mensais de US$ 85 bilhões à economia norte-americana. Tombini também disse que as intervenções no dólar terão prosseguimento no próximo ano, mas com alguns ajustes. “Posso antecipar que, mais para o fim da próxima semana, vamos detalhar esse procedimento”, disse.
Luz no fim do túnel
Durante audiência no Senado, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, admitiu que a economia global está em transição, em decorrência das retirada de estímulos monetários nos Estados Unidos. Para ele, há “uma pequena luz no fim do túnel”. “A recuperação da maior economia do planeta está ganhando força e isso representará à frente maior crescimento do mercado global e do comércio internacional”, disse.
Fonte:Correio Braziliense