Poupança é a menor em 13 anos

    Esforço fiscal menor influencia resultado. Investimentos têm queda de 2,2%

    CLARICE SPITZ, LUCIANNE CARNEIRO,
    HENRIQUE GOMES BATISTA E
    ROBERTA SCRIVANO

    A forte queda dos investimentos e a pior taxa de poupança em 13 anos marcaram a economia brasileira no terceiro trimestre. O avanço do consumo das famílias e o menor esforço fiscal do governo acabaram por levar a taxa de poupança da economia brasileira para 15%, a menor para o período desde o terceiro trimestre de 2000, de 14,4%. Desde o terceiro trimestre de 2010, quando foi de 19,6%, a taxa vem caindo. Com as famílias gastando mais, sobram menos recursos para a poupança.

    Do lado do governo, o aumento de transferências para a Previdência e o seguro-desemprego e um esforço fiscal menor também se refletiram na redução da taxa de poupança, na visão de analistas. — Essa taxa de poupança é fruto do consumo das famílias, que continua crescendo, e do consumo do governo. Como o governo está diminuindo o superávit primário, a poupança do setor público cai — explica o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.

    O coordenador de Contas Nacionais do IBGE, Roberto Olinto, do IBGE, lembra que há um estímulo ao consumo: — A renúncia fiscal para bens de consumo está impulsionando o consumo. O consumo vem subindo há 40 trimestres consecutivos. Isso reduz a taxa de poupança, que é o dinheiro disponível para investimento — afirma.

    O economista Aurélio Bicalho, do Itaú Unibanco, alerta para o risco que a baixa taxa de poupança pode trazer para investimentos a longo prazo. — Se a poupança é baixa, precisamos de poupança externa e se não houver poupança externa, isso pode comprometer os investimentos a médio e longo prazos — afirma.

    Os investimentos em máquinas, equipamentos e na ampliação da capacidade produtiva da economia — a chamada formação bruta de capital fixo — caiu 2,2% no terceiro trimestre, frente aos três meses anteriores, no pior desempenho desde o primeiro trimestre de 2012 (-2,7%). A intensidade da queda dos investimentos surpreendeu a economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, que esperava retração de 1,3% nesta comparação.

    Segundo ela, até a produção nacional de máquinas e equipamentos desacelerou: passou de alta de 4,2% no segundo trimestre para um avanço de 1,4% no terceiro. — A queda no investimento está ligada ao maior ceticismo na economia, em especial sobre a indústria, que fica neste “rame rame” — disse ela. Na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, os investimentos cresceram 7,3%, mas estão em desaceleração. No segundo trimestre, a alta foi de 9,1%.

    A gerente da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, destacou o efeito da construção civil nos investimentos: — Tanto a produção quanto a importação de máquinas perderam fôlego no período, mas o determinante foi a desaceleração da atividade na construção civil. O setor registrou crescimento de 2,4% frente ao terceiro trimestre de 2012.

    Olinto, também do IBGE, considera ainda que existe um esgotamento do “efeito caminhão”, ou seja, a mudança nos padrões de motores dos veículos de carga que elevou as vendas no início deste ano. Além disso, cita um efeito do câmbio sobre os investimentos, reduzindo a importação de máquinas e equipamentos.

    Para o economista Vinícius Botelho, da Fundação Getulio Vargas (FGV), não há nada para comemorar. Segundo ele, 2012 foi atípico para os investimentos, com a mudança nos padrões dos caminhões, que alterou todo o dado do ano, afetando a base de comparação: — Se compararmos o resultado dos investimentos do terceiro trimestre com o mesmo período de 2011, vemos uma alta de apenas 0,6% em dois anos.

    As fracas encomendas das indústrias de confecções e malharias obrigaram a Bonfio, que produz linhas de costura em São Paulo, a postergar a abertura de sua quarta fábrica, a primeira no Nordeste. — Vamos segurar por um ano a abertura da nossa fábrica no Ceará. Não dá para investir sem ter ideia do que ocorrerá no futuro — diz Alfredo Emílio Bonduki, presidente da Linhas Bonfio.

     

    Fonte: O Globo

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