Por Assis Moreira | De Sydney
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, destacou ter havido uma “nítida mudança positiva em relação ao Brasil” na cena internacional, em meio a turbulências nos emergentes. Tombini fazia menção ao recuo do risco Brasil medido pelo “Credit Default Swap” (CDS) – um contrato de derivativo que dá ao seu comprador uma espécie de seguro contra um eventual calote do país -, menor volatilidade no câmbio e entrada de capitais em janeiro e fevereiro.
“O Brasil tem respondido a esse período de transição (para a normalização das políticas monetárias) de forma clássica, o que foi objeto de destaque por parte de organismos internacionais”, disse Tombini, por meio de sua assessoria de imprensa, enquanto participava de reunião dos maiores bancos centrais do mundo, organizado pelo Banco Internacional de Compensações (BIS).
Já uma alta autoridade internacional, em conversa com o Valor, disse que as autoridades globais têm dado menos ênfase às consequências do desmonte de estímulos nos EUA sobre o Brasil. “Todo mundo está olhando é como o Brasil faz ajuste, ajeita a casa, em período de eleição”, afirmou.
Tombini participou na segunda-feira em Sydney da reunião periódica dos principais bancos centrais, organizada pelo Banco Internacional de Compensações (BIS).
As principais autoridades do mundo se reúnem periodicamente em Basileia, na Suíça. Mas como já estavam todos em Sydney para a reunião do G-20, resolveram ficar mais um dia na capital australiana para o “Global Economic Meeting”.
Uma autoridade monetária internacional disse ao Valor que no G-20 foram discutidos princípios sobre cooperação entre BCs para comunicar melhor mudança nas políticas monetárias e evitar impacto maior nos fluxos de capitais para os emergentes. O Brasil agiu para evitar que alguns emergentes levassem adiante uma polêmica excessiva com países desenvolvidos sobre os efeitos do “tapering” nos fluxos de capitais para essas economias.
A Índia e a África do Sul estavam entre os mais inclinados ao confronto e a acusar mais duramente os países ricos por adoção de políticas monetárias ultra flexíveis, por quebra da cooperação internacional e depois “lavar as mãos” sobre os efeitos em outras economias.
Mas a delegação brasileira teria convencido parceiros que seria mais eficiente e produtivo para o Brasil e emergentes evitarem antagonismo excessivo. A percepção era que isso contribuiria para aumentar a volatilidade dos mercados.
Uma fonte da delegação brasileira disse que isso não impediu o Brasil de ter manifestado críticas ao Federal Reserve e ao Fundo Monetário Internacional (FMI) por causa de relatórios que colocaram o país entre os mais vulneráveis no meio da turbulência dos emergentes.
O Brasil trabalhou junto a parceiros emergentes enfatizando perspectivas positivas de médio e longo prazo com a futura normalização global das políticas monetárias.
Um dos argumentos foi que a desvalorização cambial é parte da solução para os emergentes e não um problema. O ajuste na taxa de câmbio vai dar mais competitividade para o comércio exterior e melhorar a conta corrente do Brasil e outros emergentes.
Nas discussões técnicas, argumentou-se também que o conjunto de eventos que vai ocorrer, com saída de políticas monetárias ultra flexíveis nos desenvolvidos e elevação de juros, vai ainda demorar de três a cinco anos, pelo menos.
Esse processo não é sincronizado, e faz com que os efeitos do “tapering” nos EUA, que causam saída de capital de emergentes de volta para ativos americanos, sejam atenuados pela ação da zona do euro e o Japão, ainda em situação que continua exigindo a manutenção da política de dinheiro barato. O Japão somente este ano vai comprar mais US$ 700 bilhões de ativos, injetando liquidez na economia.
Para o Brasil, o processo de remoção gradual dos estímulos nos EUA, por traduzir a melhora da economia americana, é positivo para todos os emergentes, na medida em que deve gerar mais comércio, mais crescimento na economia global e aumentar a confiança.
A fonte da delegação brasileira ainda argumentou que é normal haver reprecificação de ativos entre emergentes e desenvolvidos quando ocorre recuperação de uma economia grande como a dos EUA e não se deve confundir isso com potencial de crise. Ao contrário, a mudança e nos preços de ativos, flutuação do câmbio e desvalorização que se sucede faz parte do ajuste, e é parte da solução sob certas condições.
O desafio é evitar que o repasse da desvalorização gere espiral inflacionária e que a depreciação da moeda ocorra de forma abrupta.
Fonte: Valor Econômico