Um dia após Marta Suplicy deixar a pasta da Cultura, outros 14 titulares do primeiro escalão colocam o cargo à disposição
O pedido de demissão coletiva, que só será analisado por Dilma a partir da semana que vem, quando ela retornar da reunião do G20, na Austrália, tornou-se um contraponto à carta de Marta Suplicy, que criticou a condução da política econômica do governo. A demissão da senadora petista será publicada no Diário Oficial de hoje.
Ontem, durante entrevista coletiva para tratar da pauta de competitividade da indústria, Mercadante explicou a ideia da demissão coletiva, alegando que a proposta surgiu de uma conversa dele com os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e do Planejamento, Miriam Belchior. “É uma forma de demonstrar publicamente esse espírito que foi a campanha da presidente Dilma, de uma equipe nova em um governo novo: todo mundo formalizar essa gentileza para ela (a presidente) ter total liberdade”, ponderou.
Logo em seguida, Mercadante retificou o raciocínio, acrescentando que, mesmo sem esse “ato de gentileza”, a presidente tem toda liberdade para trocar a equipe ministerial. “Ela foi eleita, vivemos em um regime presidencialista e ela pode trocar o ministro que quiser quando achar oportuno. Mas é um gesto e, com todos os que conversei pessoalmente, foi entendido como uma gentileza. Um gesto de agradecimento e reconhecimento pela honra de ter participado deste governo”, emendou o chefe da Casa Civil.
O ministro também minimizou as críticas da ex-ministra. “A Marta é um quadro importante para São Paulo e no Senado Federal, especialmente agora que o (senador Eduardo) Suplicy não estará mais lá (a partir de 2015). Ela tem um papel importante no debate no Senado e tenho certeza que o cumprirá. Nosso partido tem raízes profundas, ela participou de toda essa construção”, ressaltou. Perguntado sobre a possibilidade de a petista sair do PT para disputar a prefeitura de São Paulo em 2018, o ministro foi enfático: “Não trabalho com esse cenário”. Presidente da República em exercício, o peemedebista Michel Temer também rechaçou a hipótese de a petista migrar para o PMDB.
“Nada de errado”
De Doha, onde participou de um encontro bilateral antes do G20, Dilma evitou polemizar a saída de Marta. “A ministra Marta não fez nada de errado, não teve atitude incorreta, seria uma injustiça criticá-la. Ela me disse o teor da carta antes de eu viajar. Logo depois da minha eleição, disse que sairia e eu aceitei. Ela me disse que enviaria uma carta”, disse.
A presidente também negou que tenha estabelecido prazo para os ministros entregarem cartas de demissão. “O palácio não fala, é integrado por paredes mudas. Só quem fala sobre reforma é essa pessoa modesta que vos fala aqui”, disse. Ela enfatizou que a reforma ministerial não começa na terça-feira, quando retornará de viagem. “Vou fazer por partes”, afirmou.
A expectativa é de que esse fatiamento da reforma, confirmado pela presidente, comece pela equipe econômica, como uma maneira de sinalizar ao mercado os rumos do próximo mandato. Muitos nomes já foram especulados para o Ministério da Fazenda, mas o ciclo de apostas está concentrado em Henrique Meirelles (grupo JBS e ex-presidente do Banco CENTRAL), Nelson Barbosa (ex-secretário executivo da Fazenda) e Luiz Carlos Trabuco (do Banco Bradesco).
Movimentação na Esplanada
Entregaram a carta de demissão
Aloizio Mercadante (PT) – Casa Civil
José Eduardo Cardozo (PT) – Justiça
José Henrique Paim (PT) – Educação
Marta Suplicy (PT) – Cultura
Miriam Belchior (PT) – Planejamento
Manoel Dias (PDT) – Trabalho
Clélio Campolina – Ciência e Tecnologia
Marcelo Neri – Secretaria de Assuntos Estratégicos
Mauro Borges – Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Thomas Traummann – Secretaria de Comunicação
Vão colocar o cargo à disposição até a semana que vem
César Borges (PR) – Portos
Paulo Sérgio Passos (PR) – Transportes
Edison Lobão (PMDB) – Minas e Energia
Garibaldi Alves (PMDB) – Previdência
Gilberto Occhi (PP) – Cidades
Fonte: Correio Braziliense