Ministro da Fazenda se encontra com analistas do mercado a fim de reverter o pessimismo sobre a economia
VICTOR MARTINS
Em mais uma tentativa de recuperar a credibilidade do governo e da política econômica, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reuniu-se ontem, em São Paulo, com alguns dos principais economistas do mercado financeiro. O encontro, como antecipou o Correio na última sexta-feira, seria oficialmente conduzido pelo secretário de Política Econômica, Márcio Holland, mas, do início ao fim, foi Mantega quem ouviu as críticas e fez ponderações. Apesar disso, apenas no fim do dia o encontro apareceu na agenda do ministro.
Na reunião, que ocorreu na sede regional do Banco do Brasil, o ministro detalhou como o governo pretende alcançar a meta de superavit primário (economia para pagar os juros da dívida), de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB), e garantiu que ele e a presidente Dilma Rousseff estão empenhados diretamente na missão.
“Ficou claro que o nome do jogo é Standard & Poor”s”, disse um dos participantes. “O governo quer reverter a visão da agência de classificação de risco e dos investidores internacionais sobre o Brasil, pois não está disposto a passar pela humilhação de sofrer um rebaixamento da nota de crédito atribuída ao país.” Parte dos analistas avaliou ser possível cumprir a meta fiscal, mas o voto de confiança está condicionado aos resultados das contas públicas nos próximos meses.
Mantega, porém, mais ouviu do que falou, e deixou os presentes à vontade para manifestar seus pontos de vista. Entre os 16 representantes de instituições financeiras presentes ao encontro, a principal dúvida se refere ao tamanho do subsídio das tarifas de energia que o governo terá que bancar em razão do acionamento das usinas termelétricas para compensar a baixa nos reservatórios das hidrelétricas. O ministro argumentou que não se pode tomar uma decisão mais séria antes do fim do período de chuvas, no início de abril, quando se saberá como ficarão os lagos das usinas.
Imagem ruim
O ministro também admitiu que a Petrobras opera com preços defasados, mas ponderou que, em função de fatores como a volatilidade do dólar, os combustíveis não podem ser reajustados “a todo momento”. “Ele lembrou que praticamente uma vez por ano há correção da gasolina e do diesel, mas não deu sinais sobre um possível aumento em 2014”, relatou um participante do encontro.
A crise externa foi usada mais uma vez para justificar o mau desempenho da economia. Mantega, contudo, evitou qualquer palavra sobre a tendência das taxas de juros, sobretudo, pela proximidade da reunião do Comitê de Política Monetária, hoje e amanhã, que definirá a Selic que vai vigorar pelos próximos 45 dias.
Novos encontros como o de ontem devem ocorrer nos próximos meses. Para o gabinete do ministro, ficou claro que a imagem dele no mercado financeiro era a pior possível. No PT, a situação também não é boa: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria, inclusive, recomendado a Dilma que removesse Mantega do posto.
Fonte: Correio Braziliense