Em duas ocasiões distintas ontem diretores do Banco CENTRAL (BC) afirmaram que não há uma bolha no mercado imobiliário no Brasil, e que ainda que os preços dos imóveis sofressem uma forte queda os bancos teriam condições de lidar com a alta da inadimplência e a queda das garantias sem ficar insolventes.
“Não há elementos que possam caracterizar bolha imobiliária”, disse o diretor de fiscalização do BC, Anthero Meirelles, durante coletiva em Brasília. Já em seminário promovido pelo Valor em São Paulo, Sérgio Odilon dos Anjos, chefe do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro, disse que crédito imobiliário cresce de forma sustentável, com um bom nível de garantias, baixa inadimplência e tamanho ainda pequeno em relação ao PIB, hoje em torno de 8%.
O BC calculou que precisaria haver uma queda de 55% nos preços dos imóveis para levar um Banco brasileiro a uma situação de insolvência. O exercício foi divulgado em um box do Relatório de Estabilidade Financeira. Pela conta, uma queda de 45% nos preços dos imóveis já traria algum tipo de desenquadramento, em termos de capital mínimo.
A autoridade monetária observou que em ambos os cenários (queda de preços de 45% e 55%) a desvalorização considerada é maior do que a queda acumulada dos preços dos imóveis nos EUA em três anos durante a crise do “subprime”, que foi de 33%. Além disso, o sistema financeiro nacional como um todo não ficaria desenquadrado mesmo em casos extremos.
A conclusão é que o sistema financeiro é resistente a impactos diretos de grandes oscilações nos preços de imóveis residenciais. O BC atribui isso à relação entre o valor do crédito e o preço do imóvel em “níveis seguros”, ao uso do sistema de amortização constante e a provisões superiores ao mínimo exigido.
Meirelles ressaltou que o mercado brasileiro não tem crédito subprime e nem há ocorrência de forma relevante de um mesmo comprador pagando por vários imóveis, uma vez que 90% das compras são para moradia.
Sobre o comportamento dos preços, os dois representantes do BC disseram que já há uma moderação na valorização dos imóveis. “Pode se vislumbrar uma maior estabilização”, disse Meirelles, apontando que o movimento que se observa desde o ano passado deve continuar. Segundo ele, a valorização está mais compatível com o crescimento da renda da população. Para Odilon, a alta nos imóveis nos últimos anos ocorreu na esteira do crescimento da economia e depois de um longo período de estagnação de preços. “Condições macroeconômicas e regulatórias favoráveis estimularam uma gradativa valorização dos imóveis a partir de 2006, mas sobre uma base deprimida”, disse.
Ele destacou que não houve relaxamento de critérios para concessão de crédito imobiliário pelos bancos, o que pode ser visto pelas baixas taxas de inadimplência.
Odilon disse que o BC está sempre vigilante e que tem adotado medidas para aprimorar as regras do segmento. Ele citou a Resolução nº 4.721, de setembro do ano passado, que estabeleceu limites para a relação entre o valor do crédito e o da garantia, junto com outras observações sobre critérios de concessão do crédito imobiliário.
Segundo Odilon, o BC também está atento à qualidade de originação na modalidade de refinanciamento imobiliário (home equity), linha de empréstimo pessoal em que o tomador dá o imóvel quitado como garantia. Odilon citou o caso dos EUA, em que a atuação de correspondentes bancários na originação de home equity foi uma das falhas que culminaram na crise de subprime, já que havia um estímulo para aquisição exagerada de financiamento. “Tinha gente que tinha cinco imóveis com hipoteca em cima de hipoteca, muitas vezes feita sobre imóveis financiados”, disse.
Teotônio Rezende, diretor-executivo de habitação da Caixa afirmou que tanto a carteira imobiliária da instituição, quanto a dos outros bancos, estão muito bem equilibradas. Ele citou também a relação entre dívida e garantia e o baixo nível de inadimplência da modalidade.
Fonte: Valor Econômico