Por Silvia Rosa, Antonio Perez e Lucinda Pinto | De São Paulo
Dólar e juros futuros avançaram juntos ontem, último pregão do mês de junho, em reação ao déficit primário de R$ 11,046 bilhões do setor público consolidado em maio e ao fato de o Banco CENTRAL (BC) não ter concluído a rolagem integral dos contratos de swap cambial que vencem hoje.
O dólar comercial subiu 0,70% e fechou a R$ 2,2099. Apesar da valorização de ontem, a moeda americana encerrou junho com queda de 1,38%, acumulando desvalorização de 6,19% no ano.
Pela manhã, a disputa dos investidores com posições em dólar pela definição da taxa Ptax, que será usada para a liquidação dos contratos que vencem em 1º de julho e para a correção dos balanços do segundo trimestre, ajudou a conter a alta da moeda americana. Passado esse momento de definição da taxa, o mercado ficou mais livre e o dólar ampliou a valorização frente ao real.
O resultado fiscal fraco do setor público consolidado apresentado ontem não agradou o mercado e levou a um aumento das apostas no segmento de juros futuros, elevando a demanda por “hedge” (proteção) contra a variação cambial.
Com o déficit de maio, o superávit primário no acumulado de 12 meses caiu de 1,87% do PIB em abril para 1,52% do PIB. O resultado trouxe dúvidas se o governo conseguirá entregar a meta de superávit primário de 1,9% do PIB no fim de 2014.
Investidores ainda reagiram ao foto do Banco CENTRAL deixar de rolar cerca de US$ 1,310 bilhão do lote de US$ 10,060 bilhões em contratos de swap cambial que vence hoje. Na sexta-feira, a autoridade monetária não anunciou o esperado leilão de rolagem do restante dos contratos. Em junho, o BC deixou de rolar US$ 4,65 bilhões do lote de US$ 9,653 bilhões.
No leilão de rolagem de linha de linha de dólar com compromisso de recompra realizado ontem o BC não aceitou nenhuma proposta, devendo recomprar os US$ 3,5 bilhões ofertados ontem, que vencem hoje. Em junho o BC também deixou de rolar US$ 3,5 bilhões em linha de dólar com compromisso de recompra.
Na BM&F, os juros futuros de prazos mais longos subiram em um movimento alinhado com o dólar. A liquidez reduzida, contudo, tira um pouco de representatividade dos movimentos. Em todo caso, a ratificação do quadro de fragilidade das contas públicas com déficit primário do setor público em maio, deu argumentos para uma correção após a temporada de diminuição dos prêmios de risco. A taxa do contrato futuro de Depósitos Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2017, o mais líquido do pregão, saltou de 11,50% para 11,54%.
Analistas notam duas forças contrárias atuando no mercado de juros futuros nos últimos dias. De um lado, o enfraquecimento da atividade limita o espaço para novo aperto monetário, o que tira força dos DIs. De outro, a piora do quadro fiscal tende a pressionar os prêmios de risco.
Ontem, além do déficit fiscal do setor público, investidores digeriram mais uma rodada de piora das projeções de crescimento. A mediana das estimativas do Boletim Focus de ontem para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano caiu de 1,16% para 1,10%.
Além da fraqueza da atividade, contribui para conter o avanço dos DIs o nível baixo das taxas dos títulos do Tesouro americano (Treasuries). Isso amplia o apetite por ativos de alto retorno, caso da renda fixa brasileira.
Fonte: Valor Econômico