Por José de Castro e Silvia Rosa | De São Paulo
Apesar da preocupação com o aumento da tensão entre Rússia e Ucrânia, o fluxo positivo de recursos continua sustentando a queda do dólar no mercado local. O dólar comercial fechou ontem em queda de 0,49% a R$ 2,215.
O especialista em câmbio da corretora Icap, Italo Abucater, lembra que o movimento é de venda de dólar no curto prazo, sustentado pelo ingresso de recursos para o Brasil, seja por parte das operações comerciais, com o início do embarque de soja, seja pelas captações externas de empresas brasileiras que continuam aquecidas.
Para Abucater, esse movimento de alta do real é pontual e o fluxo deve começar a diminuir a partir de maio. “O BC está perto de interromper o ciclo de aperto monetário e isso pode diminuir a atratividade das operações de “carry trade” [em que os investidores buscam ganhar com a arbitragem de juros]”, afirma Abucater, que vê o patamar de R$ 2,20 como um piso para a queda do dólar.
O estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno, também vê um dólar mais forte até o fim do ano, destacando que muitas empresas têm antecipado as captações de bônus prevendo um segundo semestre mais volátil diante da realização da Copa do Mundo e das eleições no Brasil. “A tendência continua sendo de apreciação do dólar, dado que o cenário ainda mostra um crescimento econômico baixo e o BC deve parar de subir a taxa básica de juros, embora a inflação continue alta.”
A cotação mais baixa do dólar e a perspectiva de entrada de recursos, no entanto, já começa a despertar especulações sobre a mudança de atuação do BC no mercado de câmbio. A autoridade monetária já rolou US$ 6,50 bilhões do lote de US$ 8,733 bilhões em contratos de swap cambial que tinham vencimento previsto para 2 de maio. Ainda restam US$ 2,233 bilhões a serem renovados.
O BC não informou, até o fechamento desta edição, se fará a rolagem dos contratos restantes. O mercado esperava que o BC rolasse ao menos mais US$ 1,5 bilhão até o fim do mês, deixando vencer US$ 733 milhões. Se o BC interromper a rolagem, pode levar a um ajuste do dólar no mercado local.
Fonte: Valor Econômico