PARA PESQUISADOR, SITUAÇÃO GLOBAL É MAIS DECISIVA DO QUE DETERIORAÇÃO DOS INDICADORES DOMÉSTICOS
Após bater R$ 2,43, moeda americana voltou a R$ 2,29; mercado não prevê nova alta brusca
MARIANA CARNEIRODE SÃO PAULO
Depois de bater R$ 2,43 há pouco menos de 15 dias, o dólar voltou à casa dos R$ 2,20 na última semana. Segundo analistas, ficou mais distante de uma subida mais brusca no curto prazo, mas as incertezas externas –em que o desempenho da economia americana é o centro das atenções– deverão manter o dólar na gangorra.
Estudo recém-elaborado pelo economista e professor do Insper José Luiz Rossi Júnior e Wilson Felício mostra que é o cenário global quem tradicionalmente comanda a cotação do dólar no Brasil.
A influência é maior do que a taxa básica de juros doméstica, o crescimento econômico, a inflação ou o deficit brasileiro nas contas externas.
O levantamento levou em consideração os movimentos do dólar no Brasil desde a flutuação, em 1999, até 2011. Nesse período, diz Rossi, foi a demanda global por dólares que definiu a cotação da moeda americana no Brasil. Exemplo é a alta recente.
“Aqui no Brasil não houve uma grande mudança de fundamentos, nenhuma notícia que pudesse provocar um salto na taxa de câmbio. O que aconteceu foi lá fora: o mercado ficou mais volátil, com mais incerteza, e os agentes mais avessos ao risco.”
EFEITO FED
Esse cenário, na sua opinião, provocou uma piora das expectativas, que levou o dólar dos R$ 2 aos atuais R$ 2,30.
Desde maio, quando o Fed (banco central americano) indicou que vai retirar os estímulos financeiros usados para recuperar o crescimento econômico, o real –como outras moedas de emergentes– perdeu valor frente ao dólar.
Com a perspectiva mais promissora de crescimento nos EUA, investidores começaram a retornar ao mercado americano, saindo de países emergentes, como o Brasil.
Entre 18 países analisados por Rossi, o Brasil foi o mais sensível ao quadro externo.
Para ele, isso pode estar relacionado à atração do país para aplicações vinculadas ao diferencial de taxas de juros e que são facilmente desmontadas em mudanças globais. A conclusão se diferencia de análises internas que dizem que a alta do dólar estaria respondendo à deterioração das condições do Brasil. Para Rossi, os fundamentos pioraram. Mas a correção via alta da taxa básica de juros, já em curso, não deve ser suficiente para cessar a alta.
Na sua opinião, o comportamento do câmbio será definido pelo grau de incerteza externa, o preço das commodities (matérias-primas com preços fixados no mercado externo) e pela disponibilidade de recursos privados voltados para investimentos.
“Os agentes não sabem o que vai acontecer nos EUA. Essa incerteza afeta o câmbio aqui”, afirma.
Segundo Natan Banche, sócio da consultoria Tendências, o cenário externo é relevante, mas existem fatores internos que impulsionam a desvalorização do real.
As obrigações locais de curto prazo em dólares, diz ele, mais do que dobraram neste ano, o que levou empresas a buscar a moeda americana para honrar compromissos. Ainda assim, diz, R$ 2,40 parece ser hoje o teto do dólar.
fonte: Folha de S.Paulo