Por Eduardo Campos | De Brasília
O silêncio do Banco CENTRAL (BC) diante da escalada do dólar chama atenção. Por mais que o BC afirme que o câmbio é flutuante e é a primeira linha de defesa da economia brasileira, a autoridade monetária costuma atuar para suavizar movimentos exacerbados de mercado. É a conhecida estratégia de “se inclinar contra o vento”, que parece ter sido abandonada. O BC não fala oficialmente e também não “manda recado” por meio das fontes.
O BC não alterou o volume de rolagem de contratos cambiais que vencem em abril e ruma para não rolar integralmente o lote. O aceno foi dado no fim do mês passado e já trouxe apreensão ao mercado. Junto disso, há um aumento global na demanda por moeda americana conforme o Federal Reserve (Fed), Banco CENTRAL americano, acena alta de juros e o Banco CENTRAL Europeu (BCE) liga a impressora de euros para compra de dívida soberana, forçando um reequilíbrio mundial nas paridades entre as moedas.
Não bastasse o complexo quadro internacional, o ambiente doméstico é de franca deterioração. Há aumento de risco institucional conforme o governo Dilma Rousseff enfrenta uma grave crise política com traços de rebelião de uma pretensa base aliada e um incômodo fogo amigo quando se trata das medidas de austeridade que são necessárias para corrigir o rumo de decisões erradas tomadas durante o primeiro mandato.
No momento atual, não fazer nada pode ser a melhor alternativa para o BC, pois ele não dispõe das ferramentas operacionais para lutar contra esse quadro onde todos os vetores jogam contra o real.
O maior risco em um momento como esse é fazer um movimento e desencadear uma onda especulativa contra a moeda brasileira. Tal movimento poderia ser uma venda de moeda à vista, pois demonstraria um agravamento de quadro, apesar das reservas internacionais.
A estratégia de ofertar swaps cambiais foi lançada em agosto de 2013 justamente como uma forma de acalmar o mercado e preservar as reservas internacionais. O BC chama os bancos a prover a demanda por liquidez no mercado à vista. Não por acaso a posição vendida das instituições financeiras está acima dos US$ 25 bilhões.
O estoque de swaps já passa dos US$ 113 bilhões e equivale a 30% das reservas internacionais, de US$ 370 bilhões. Até o fim do ano passado, o BC parecia confortável com esse estoque, pois já apontou que os efeitos das atuações sobre o mercado são cumulativos.
Como não há dados mostrando intensa saída de moeda americana do país, o que se vê é uma renovada demanda por hedge (proteção), que se concentra nas operações com dólar futuro na BM&F. Parece que em função do aumento de risco externo e doméstico, a tolerância dos agentes à exposição cambial caiu e como não há no radar previsão de melhora de quadro, principalmente no front interno, ninguém quer ficar exposto às oscilações do dólar.
Não há quem faça uma clara condução de expectativas, seja no campo político ou econômico. Não tem quem dê uma garantia de que ajustes e mudanças serão feitos a ponto de tranquilizar o investidor, principalmente aquele com compromissos em moeda estrangeira. Nesse momento prevalece a máxima do mercado de câmbio: “na dúvida, compra”.
Fonte: Valor Econômico