Constatei que inversamente proporcional ao declínio do meu índice de leitura, a cada dia, sobem de prestígio as matérias que considero desprezíveis nos periódicos. Estão nesse caso as colunas do Arnaldo Jabour, Diogo Mainardi, Ricardo Noblat, Hildegarde Angel, resumo de novelas e fofocas sobre artistas. Mas, o pior pode ser encontrado nos suplementos que acompanham os jornais de fim de semana: os perfis de celebridades de indiscutível inexpressividade. Ali, "famosos quem?" respondem a questões fundamentais como “o barulho fazem no ato do amor” ou sobre “quem mandariam para uma ilha deserta”. À altura da fama dessas celebridades estão os seus dotes culturais e de originalidade. Assim o grand finale dos perfis é a revelação das frases prediletas: “Quem ri por último, ri melhor”; “A inveja é uma m…” e a campeã: “É chato ser bonito. Mas, muito mais chato é ser feio”. Mas, agora com o advento da novela “Pé na jaca”, houve um pequeno refluxo das frases feitas e está ocorrendo uma míni-valorização de uma verdadeira “jóia” da sabedoria popular nacional que são as expressões que definem uma situação em poucas palavras, como a expressão “Vai acabar em pizza!” que sintetiza o resultado das CPIs promovidas pelo Congresso.E tudo começou com a tomada das seções de cartas dos periódicos pelas denúncias de que o título do folhetim das sete não é autêntico. O correto, segundo os leitores é “Pé no jacá”. Tanto uma quanto a outra forma significa extrapolar em alguma coisa. E pela reação do público, parece que a Globo acertou em cheio: a novela é exageradamente ruim. Foi de rara felicidade quem classificou como “mala” alguns seres humanos que nos rodeiam no dia-a-dia. Até porque, além de ser comum aos dois gêneros, transcende a conotação do chato: é o inconveniente, o espaçoso, o difícil e pesado de carregar. O(a) “mala” é um(a) chato(a) que incomoda, daquelas que a gente esquece nos aeroportos e nem liga. Dizem que o criador do “aspone” foi o Roniquito, irmão da Scarlet Moon. Mas, não imagino ninguém – nem o Veríssimo – capaz de classificar o presente no passado como o “já era”. Foi de inspiração divina. Todavia, só alguém com a genialidade do cronista gaúcho seria capaz de definir o que não possui explicação como “batom na cueca”. Li que o termo “feito nas coxas” vem do tempo em que os escravos usavam as coxas para moldar as telhas de argila. Hoje, conota com absoluta perfeição erótica o que foi mal feito. Se tivesse cacife e espaço continuaria divagando sobre inúmeras expressões de alta criatividade. Contudo, vou finalizar abordando uma que, apesar de caracterizar um benefício previdenciário que terei direito em breve, evito comentar, pelo poder que possui em descrever meu futuro no presente: “Pé na cova”.
Inicial PÉ NA COVA