Um dos meus sonhos de consumo pós-aposentadoria é uma banca de jornal. Mas, não uma banca qualquer. Tem regulamento! Tem que estar localizada no Rio, de Copacabana a Ipanema (nada de Barra ou Recreio) e ser daquelas que se possa entrar e “passear” por dentro. Como acontece em várias delas, deve ser provida de ar-condicionado, TV, DVD, rádio e estar fronteiriça a um restaurante que permita, quando eu cismar, curtir um chope. Isso porque considero fascinante o fato de se poder trabalhar praticamente ao ar-livre, em contato com todos os tipos de pessoas, rodeado de informações, tendo à frente a visão de paisagens deslumbrantes como mar, montanha e mulher bonita e, em troca, ainda faturar “alguns”. Quando leio que hoje tudo pode ser realizado virtualmente, concluo que as bancas estão à frente dessa modernice porque o mundo, sem internet, está contido naqueles exíguos espaços. Se “navegar é preciso”, as publicações do tipo “Visita ao Mundo” levam você a qualquer lugar. Instruem até a se arranjar emprego no exterior. Se for mais exigente, “viaje” através do DVD. Os místicos, religiosos, aventureiros, historiadores e os “cabeças”, podem se lambuzar: Há escolhas entre o “Poder da Influência Mental”; “Os Símbolos e Segredos da Maçonaria”, “Salmos e Arcanjos”, “Espiritismo”, “Umbanda”, “Aventuras na História”, “Subconsciente”, “ET”, “Ovni’s”. Ficar rico é fácil! Basta ler “Meu Próprio Negócio”, “Ganhe Dinheiro”. Se for preguiçoso compre uma “raspadinha”. Os menos ambiciosos podem aprender os segredos das “Bijuterias”, das “Pedrarias”, dos “Ourives”, como também consultar o “Almanaque da Tatuagem do Brasil”. Não gaste dinheiro com profissionais especializados! “Faça Você Mesmo”! Os “Manuais sem Mestre” ensinam desde a confecção de cortinas até a administração de fazendas. Há publicações enigmáticas como “Medicina Ayurveda”, “Fortalecendo seu Segredo”, “Vida Simples sem Culpa”, “Scrapbooking” e uma de matar gaúcho de raiva:” A Bíblia do Churrasco”. Nelas estão sempre em destaque todos os programas de computador, apostilas, estatutos, leis e livros de bolso, como também, qualquer guia – fácil – sobre o que se possa imaginar. Escondidos em algum canto, são encontrados gibis, passatempos e revistas em quadrinhos. Como vida de artista é tema de interesse nacional, as bancas mantêm em suas prateleiras incontáveis publicações sobre os “tititis”, as “celebridades”, os próximos acontecimentos das novelas e os “segredos” das receitas, intimidades e boa forma dos “famosos”. Paralelamente, vendem bombons, pilhas, filmes, canetas, baralhos, barbeador e até servem lanches. O difícil em banca de jornal é comprar jornal. Outro dia, junto aos leitores de uma rodinha formada do lado externo de uma banca, fiquei interessado no desdobramento do assunto da discussão que era exibido, em manchete, por um periódico e resolvi adquirir um número. E não é que o jornaleiro não quis vender! Explicou que os exemplares dos diferentes jornais expostos na “vitrine”, naquela hora do dia (dez da manhã), eram únicos. Caso vendesse, deixaria de “alimentar” as discussões sobre as manchetes exibidas, já que os “debatedores”, após os embates, raramente vão embora sem antes adquirir algum outro produto no estabelecimento (pilhas, biscoitos, doces, etc.). O jeito foi voltar ao grupo e passar a me informar através das conversas alheias.
Inicial OLHA O JORNALEIRO!