Numa roda de chope, alguém afirmou que se considerava realizado profissionalmente, porque na adolescência realizara os dois sonhos de todo jovem brasileiro: ter jogado em clube de futebol e cantado num conjunto. Pesquisa realizada entre os demais lhe desmentiu a afirmativa: nem o campo e nem o palco fora o sonho de mais ninguém quando rapaz. Em casa passei a recordar do que queria “ser quando crescesse”. Lembrei que via muitos filmes faroeste com o meu pai e adorava revólveres. Como a única arma que conseguia ver “ao vivo”, assim mesmo só o coldre, era a de um Policia Especial que apelidei de “Moreno”, achei então que queria ser policial. Mas, não. Eu queria ser o “Moreno”.Depois me realizei como mecânico. Havia uma oficina de automóveis na minha rua onde batia o ponto todo o dia depois das obrigações escolares e do almoço. “Trabalhava” limpando e colocando graxa nas peças. De noitinha chegava todo sujo em casa e cheirando a gasolina, mas exibindo as mariolas e brevidades que comprara com as gorjetas.A partir da adolescência sonhei em ser caminhoneiro, marceneiro, repórter internacional, jornalista e executivo de TV.Um dia li Carlos Drumond de Andrade confessar com humildade: – eu queria ser Vinicius de Morais! Tomei um soco no estômago.Eu também! Vinicius representa o ápice humano!: culto, inteligente, viajado, exilado, boêmio, amante apaixonado, mulherengo infiel, bebedor, gourmet, cozinheiro, ócio maníaco, e tudo o mais de bom que você puder enumerar.Mas, fiquei na dúvida quando vi o filme do Paulinho da Viola: excelente compositor; depois do Caetano, o melhor cantor brasileiro; sereno; inteligente; elegante; mecânico e, principalmente, marceneiro (outra das minhas vontades).Entretanto, foi passeando em Ipanema que descobri o meu sonho: ser proprietário de uma banca de jornal! Mas, existe regulamento: tem que ser na orla marítima entre o Leme e o Leblon e de frente para um restaurante. É obrigatório ser do formato que permita ao freguês entrar e escolher e estar servida de ar-condicionado, TV e rádio.O que é melhor do que ganhar a vida, cercado de informação e cultura, numa calçada de rua, de frente para o mar, conversando com os amigos, “bebericando” o seu chope e ainda por cima desfrutando de uma incrível sensação de liberdade?Tiro de misericórdia: e apreciando o desfile, em trajes sumaríssimos, das mais lindas mulheres do mundo dia e noite!?!?!?
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