Se a intenção da OAB ao encomendar uma pesquisa para verificar o grau de confiabilidade das instituições foi o de expor ainda mais as mazelas do Poder Judiciário, a impressão que fica é que a patrocinadora atirou no próprio pé. Um sintoma de que o tiro saiu pela culatra está no resultado divulgado pela “Ordem” de que 55% dos entrevistados confiam nos advogados. A informação foi claramente manipulada. A instituição omitiu que desse total, 40,9% confiam parcialmente nos “doutores”. Quem confia parcialmente, desconfia. Como dizem na minha terra, no “pau da goiaba”, ou seja – na verdade – 85% dos pesquisados não acreditam em advogados e conseqüentemente apenas 15% confiam plenamente. O percentual ficou perto dos 12,9% que acreditam no Ministério Público e dos 12,0% de confiabilidade atribuídos ao Poder Judiciário. Até a Imprensa, via de regra taxada de mentirosa, foi-lhes superior com 20,1%. Quem segura a “lanterninha” – como sempre – é o Congresso Nacional. Possui crédito de apenas 6,5% dos brasileiros. A mais confiável é a Igreja com 46,8.Entretanto, como o foco da discussão extrapolou à crescente perda de credibilidade enfrentada pelo Judiciário através dos escândalos em cascata protagonizados pelos Juízes, o que deixou a descoberto todo o “universo da jurisprudência, as cabeças coroadas das “leis” não tem conseguido se abster da emissão de opiniões sobre os motivos da crise. Metade coloca a culpa na decadência do ensino dos cursos de base, ou seja, nos 1° e 2° graus. Dizem que não adianta colocar telhado onde não existe chão e que não há condições de se entender o Direito se antes não se aprendeu a raciocinar, nem a escrever. No mesmo sentido, a outra metade, vai mais além. Até recorrem a matérias da mídia que dizem que quase 60% dos estudantes brasileiros do ensino fundamental não compreendem mais do que frases simples. Pregam que as escolas de advocacia precisam fazer uma reciclagem: não investir apenas no estudo das leis, mas na própria língua, sobretudo na linguagem argumentativa. Corporativamente, nenhuma argumentação atingiu ao foco do problema: a ânsia de ampliar o acesso ao ensino superior fez com que o estado equivocadamente (reconhecendo sua incompetência) cedesse generosos espaços aos inescrupulosos barões do ensino para que promovesse a multiplicação das vagas acadêmicas. Inclusas no pacote, indecorosas licenciosidades. A maioria das universidades pagas instituiu o mesmo raciocínio comercial dos supermercados que expõem seus inúmeros produtos estrategicamente ao encontro do desejo de cada freguês. Para cada item oferecido, diversificações de marcas, conteúdos e preços. Quem quiser é só passar no caixa. Nem precisa de dinheiro no ato. Pode-se pagar da forma que melhor lhe convier. Do cartão ao cheque pré. O mesmo sistema é usado por faculdades particulares. Os cursos são produtos à venda dispostos nas prateleiras das inúmeras especialidades, podendo ser até encontrados na modalidade “delivery”. Como vale tudo no pagamento, ainda assistiremos trocas de pseudo-ensinamentos por tíquetes-refeição e/ou vales-transporte. A conseqüência natural de se manter a mensalidade em dia nos supermercados do ensino é a obtenção de um diploma acadêmico. E aí é o que se vê: à exceção das escolas de medicina humana e dos ramos de engenharia, as demais faculdades particulares oferecem vagas capazes de cobrir qualquer procura. E como os formados em Direito cultuam o imodesto e hoje falso título de “doutor” e as atuais escolas de advocacia não exigem muita coisa dos seus alunos, ser advogado está com a preferência.Chega a impressionar as vezes que se dá de cara com pessoas estudantes e formados em Direito. A excessiva quantidade nivela por baixo a qualidade e joga o joio para longe do trigo.A degradação chegou a um ponto tal que não resisto em reproduzir uma história que soube ter ocorrido por ocasião de uma greve em determinada empresa: um grevista mais exaltado com a omissão dos companheiros do setor jurídico ao movimento foi contido por um colega sob maldoso e irônico argumento: “Perdoa os caras! Afinal, eles não são culpados de terem tido poucas oportunidades de estudar …”.
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