No metrô, pelo celular, o passageiro ao meu lado, combina com vários de seus amigos uma sessão na sua casa de vídeos do “Jaspion”, aquele desenho de super-herói japonês que passava na TV Manchete nos anos 80.Dias depois, a Cora Ronai contou no Globo que sugeriu a amigos que assistissem ao “Curtindo a vida adoidado” que, na lembrança dela, foi um dos filmes mais divertidos de todos os tempos. Todos adoraram a idéia, e chegaram a ficar com inveja da Heliana, que nunca havia visto o filme, pela experiência que iria viver. Passados dez minutos a Heliana perguntou:”Vocês estão gostando?”. Ligeiro murmúrio. Mais um tempo: “Vocês juram que achavam esse filme engraçado?” Resposta: “Era engraçado sim… era outra época…” A Abril lançou anos atrás, a ´”série ouro” dos gibis do Pato Donald. Comprei o primeiro número não apenas para saber se o Donald já casou com a Margarida ou verificar se os Irmãos Metralha finalmente conseguiram arrombar a caixa-forte do Tio Patinhas. Meu interesse maior era pelas incríveis trapalhadas do Peninha que eu tanto curtia. Mas, considerei a historinha fraca. A do segundo número também. Idem a do terceiro. Parei de comprar. Quando assisti a comédia “A grande Escapada”, filme que se passa na segunda guerra, estrelado pelo Terry Thomas, sai do cinema “troncho de rir”, como diria Chico Buarque. Depois de assistir a sessão, fui à bilheteria e comprei outra entrada. Percebi da segunda vez várias cenas que me passaram despercebidas na primeira e ri mais ainda. Passei anos tentando rever o filme, até que o descobri numa madrugada de um desses canais bem mambembes. Preparei-me para assisti-lo em grande estilo, com pipoca, refrigerantes e salgadinho. O filme começou e mesmo considerando que o estava achando chato, resolvi esperar para ver se melhorava. Quando acordei o canal havia saído do ar. Num consultório descubro uma revista de fotonovelas colorida "novinha em folha". Tento ler a história e não consigo de jeito algum. Desisto e fico pensando que na minha adolescência eu sempre “roubava” um “Sétimo Céu” da minha irmã, parra ler antes de dormir., As fotonovelas eram italianas e em preto e branco. Algumas delas reli dezenas de vezes, Fui apaixonado por uma atriz que tinha imensos olhos que deviam ser verdes. Mas, ao contrário dos filmes faroeste onde eu sou sempre o Gregory Peck, nas fotonovelas era eu mesmo o herói que beijava a linda heroína no final. Voltando a crônica da Cora Ronai, ela disse que há filmes nunca deveriam ser assistidos de novo. Vou mais longe. Minhas frustradas experiências ensinaram que há inúmeras outras lembranças que não devem ser revisitadas. Foram fatos deliciosos em sua época que, para não perderem o encanto, devem ficar flutuando apenas em nossa ilusão. Do contrário, estraga.
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