Quando me decidi a escrever este texto eu sabia que estaria pisando, ou escrevendo, em terreno mais ou menos “minado”, para não dizer polêmico. Não sou filósofo, muito menos profundo conhecedor de Filosofia. Confesso, porém sempre ter alimentado uma curiosidade do tipo autodidata sobre o assunto. Outro dia um amigo de infância, ex padre, professor universitário, escritor, formado em Teologia, Filosofia, etc, o Armando Avellar, me escreveu o seguinte a propósito da forma como me defino em relação à Filosofia: “O ser humano tem condições de pensar, embora o pensar reflexivo ou crítico seja anti-natural, ou seja, exige grande esforço e superação de seus próprios conceitos. Portanto, o esforço que fazes em cima dos fatos e atos não deixa de ser ensaio filosófico.” Vindo de quem veio tive que aceitar esta afirmação, afinal ele sabe o que diz. Por outro lado, outro amigo, formado em Administração de Empresas, excelente poeta, estudante aplicado e profundo conhecedor de Filosofia, ao ler uma mensagem em que eu comunicava a gravidez da nossa linda Safira, destacou essas palavras: …"acredito que Deus seja ou esteja na Natureza"… Disse-me ele então: “… sabe que eu também penso assim, (aliás Heráclito e Spinoza também – Deus não como um ser supremo hierárquico, mas fora dos templos e na natureza, no todo, na vida)… Pensei: “puxa, pelo visto estou muito bem acompanhado”. É verdade, estufei o peito mas não me deixei cobrir de honrarias, digamos assim, porque sei não fazer jus a elas. Devagar com o andor então. Eu só queria e só desejo escrever como um cidadão comum cheio de dúvidas e indagações que algumas vezes me afligem e em outras me dão o estímulo de que preciso. Se eu estou no caminho certo não sei, mas vou continuar andando, procurando, meditando, lendo e ouvindo, especialmente pessoas, como aqueles amigos, que conhecem profundamente, assim creio, as pedras do caminho. Outro dia ouvi no rádio dois cidadãos bem formados empenhados num debate entre “criacionismo e evolucionismo”. Pelo “criacionismo” nós, seres humanos, teríamos sido criados por um Ser que muitos chamam de Deus. Ele seria perfeito, infinito, criador do Universo e assim, superior à Natureza. Já pelo “evolucionismo” nós seríamos uma etapa avançada da mutabilidade de determinada espécie. Aqui temos a doutrina de Darwin, conhecida como darwinismo. Essa idéia da evolução, ou evolucionismo, preconiza a mutabilidade de todas as espécies. Nós teríamos evoluído dos macacos, ou gorilas, etc. Realmente semelhanças há muitas, e não esqueçamos que os gorilas já comprovaram, em recentes testes científicos, serem dotados de muito boa memória e inteligência. Mas tenho dificuldade em aceitar a teoria de Darwin. Minha incompetência para mergulhar mais fundo neste assunto, acaba quase me inclinando para um dos lados, todavia não é para o Darwinismo. Seria então para o criacionismo? Aceitaria eu um Deus que tudo criou e continua a criar neste infinito tempo que nos leva não sei para onde, ou até quando? Minha formação católica poderia me fazer aceitar pacificamente e sem qualquer discussão essa teoria, mas hoje, hoje não mais. Depois de ter passado por determinadas experiências que, como já disse, eu não conseguia controlar, tive minhas convicções abaladas. O Deus, para mim, não pode ser algo, uma entidade, uma mente ou coisa assim, dissociado do todo, do universo, muito menos na figura de algum homem, não, hoje não aceito essa idéia, este conceito. Não aceito hoje um Deus que nos premia ou nos castiga por isso ou aquilo. Desculpem, estou sendo muito franco, sem medo de ser feliz. Procuro a verdade por mim mesmo, talvez seja uma audácia, mas prefiro ser assim do que deixar que me coloquem algum cabresto. Pensar é preciso. É muito difícil para quem é um cidadão comum, ainda que bem formado, etc, e se confessa incompetente, definir ou explicar o que vai em seus sentimentos. Alguns dirão que é necessário coragem para fazer isto, mas eu acho que não, basta termos a mente aberta a tudo, a outras teorias, a outras revelações, e por aí afora. Se estivesse só nesta vida, como praticamente vivi de junho/2003 até janeiro/2007, tendo a presença constante de uma solidão doída, sofrida, injuriada, caminhando para a descrença, não sei o caminho pelo qual poderia ter enveredado em relação à minha fé, aos princípios em mim arraigados há tantas décadas. Hoje vivo com Lena, católica fervorosa, mulher de grande fé, e respeito muito isso. Acompanho-a à missa, sim, pois me sinto no dever de o fazer, mas minha participação não inclui cânticos, nem aplausos, nem outras manifestações que a missa moderna pratica. Algumas vezes converso com ela sobre minhas atuais convicções ou confusões de sentimentos relativamente às religiões em geral, inclusive a católica. Breve tratarei disso com mais detalhes em outra crônica. Afinal acredito que não me encontro nem no Darwinismo e nem no Criacionismo como este é pregado pelas igrejas. Se houver uma terceira hipótese será talvez mais fácil eu me definir por ela. Mas não a conheço, e também não gosto da expressão “terceira via”. Em princípio, embora vá decepcionar os que devem estar a esperar mais de mim, diria que melhor defini meus sentimentos quando escrevi outro dia aquelas palavras, realçadas por um certo amigo, ou … "acredito que Deus seja ou esteja na Natureza"… ainda mais sabendo agora que tenho aí a companhia dos filósofos Heráclito e Spinoza. Aí me ocorrem outras dúvidas: e se houver vida em outros planetas, nos milhões, ou bilhões espalhados neste infinito em que está incluída a nossa linda e pequena Terra? Por que só existiria vida orgânica aqui? Quem pode garantir? Tão pouco se sabe sobre tudo isso, embora os cientistas continuem pesquisando, mas ainda engatinhado! Havendo vida fora da Terra, como ficam as teorias criacionistas? Vamos fechar, meus amigos, dizendo então que aceito… “Deus, não como um ser supremo hierárquico, mas fora dos templos e na natureza, no todo, na vida”.
Inicial CRIACIONISMO OU EVOLUCIONISMO?