Até bem pouco tempo, a voz corrente no Brasil era que só ia para a cadeia preto e pobre! Passando ao largo de qualquer discussão sobre o atual governo, o que não pode deixar de ser dito é que, ultimamente, houve alguns desmentidos a essa crença. Foram presos, entre outros, o juiz Rocha Matos, aquele da cabeleira grisalha – que mais parece um zagueiro argentino aposentado, o dono da Schinkariol, a proprietária da Daslu e os Maluf’s, pai e filho. Em nosso país esse tipo de procedimento ainda é doloroso. Foi só colocarem a mão nos tubarões que logo apareceram poderosos detratores do Ministério Público e da Polícia Federal. A reação foi tão forte que, quando trancafiaram a dona da Daslu, o ACM ocupou a tribuna do Câmara e chorando protestou contra a prisão da empresária. Antonio Carlos, forma intima como o senador é tratado pelos baianos, deve considerar uma afronta aos seus eleitores a prisão de uma “honesta” empresária paulistana que realizava importações para a sua “classuda” loja, onde pobre não pode passar nem na calçada, usando o seguinte esquema: para um produto que custasse R$100, pagava impostos sobre notas “frias” de R$50 e realizava as revendas por R$300. Aos “trancos e barrancos” o processo prosseguiu até que uma ação conjunta do MP e da PF teve a petulância de denunciar e prender Paulo Salim Maluf e seu filho Flávio. Aí não! Tem regulamento! Como ousam prender um dos últimos expoentes da ditadura impunemente! A reação veio em frustradas (ainda) tentativas de desqualificar o Ministério Público e no pleno êxito da desmoralização da Polícia Federal. A lógica é simples: se todas as evidências apontam que as policias municipais e estaduais, tanto civil como militar, estão 99% contaminadas pela corrupção, não será uma outra corporação policial, mesmo que federal, que o vírus encontrará resistência. E aí todo dia aparece um novo escândalo na PF. É muita coincidência – e tem cheiro forte de armação – que as denúncias em cadeia sobre as ocorrências na instituição tenham começado a ocorrer no justo momento em que alguns famosos começaram a serem presos. E o que mais espanta é que as evidências são de que o “circo” está sendo animado de dentro para fora e por “artistas” da própria casa. Bom, mas volto ao tema do texto que é o Maluf. Sua prisão foi uma glória! Inspirou até a colocação de uma faixa bem em frente ao local onde estava preso com os seguintes dizeres: “Venda de títulos públicos em sua última gestão: R$ 1,5 bilhão; Desvio de verba na construção da avenida Água Espraiada: R$ 800 milhões; Movimentação financeira no exterior:US$ 161 milhões. Ver Maluf e sua cria encarcerados após fraudes: não tem preço!” Conheço gente que quase chegou ao orgasmo ao ouvi-lo reclamar que “Isso aqui é horrível. Não há liberdade nenhuma!. Contentaram-se com uma sonora e vingativa gargalhada. A prisão de Maluf, foi um “prato cheio” para os humoristas:Tom Cavalcanti, imitando-o, disse num programa de TV: "Eu não poderia perder a oportunidade de falar em cadeia nacional!"Mas, o Salim é uma raposa velha. Frustrados os caminhos legais para a obtenção de sua liberdade, apelou para seus influentes$ e inúmero$ dote$ artí$tico$. Tentou um problema cardíaco, mas não deu certo e o médico mandou-o de volta para a cela. Aí alegando um mal estomacal, contou com a piedade do ministro Carlos Velloso, do STF, que ficou tão comovido que até se adiantou ao julgamento de uma outra instância e aceitou o seu pedido de prisão domiciliar. E representando o papel do semimoribundo, barbado, alquebrado, com as pernas arcadas mal suportando o peso do seu corpo, promoveu uma saída teatral da delegacia. Dias depois, comprovando que possui dotes milagrosos, além daqueles financeiros depositados na Suíça, Dr. Paulo apareceu curado milagrosamente, sentado numa mesa de uma pastelaria de Campos de Jordão, local onde foi surpreendido barbeado e bem vestido e ainda rodeado de latinhas de cerveja vazias. Pela TV se soube que no local, almoçou dois gordurosos pastéis e que a iguaria levava no recheio uma maçaroca de carne, ovo e uma verdura que, no final, deve pesar 300g e contar 1000 calorias. “Matou” dois desses. Deve ter sido por recomendação médica para tratamento da sua gastrite.Tem gente que ao ver as fotos achou que ele está mais humilde. Afinal, o Paulo Salim nem fez com os dedos o “v” de vitória que lhe é tão característico. Ou será que sentiu falta do ministro Carlos Velloso na composição da pose? Foram 32 dias de xilindró. Tempo que daria razão a minha mãe quando dizia que alegria de pobre dura pouco. O que consola é que, o que doeu em Maluf – mais que a desmoralizante temporada vivida no cárcere – foi constatar de que não é mais tão intocável quanto julgava ser.
Inicial ALEGRIA DE POBRE DURA POUCO